domingo, 24 de outubro de 2010


Poema De Natal


A meia noite
Um galo cantou distante
(Possivelmente o canto de um galo carijó)
Anunciando que ao longe
Num berço de palha qualquer
Ou num buraco qualquer
De alguma favela da zona sul
Nasceu um menino
O mais pobre
O mais simples
E ao mesmo tempo
O mais rico de todos.


Nas igrejas
Os sinos tocaram
Nas casas
Champanhas espocaram
Garrafas de uísque
Cerveja e cachaça
Foram abertas
Fartas ou não
As mesas estavam postas
E fogos de artifícios
Iluminaram a noite.


A meia noite
A estrela de Belém
Brilhou no céu
Mas ninguém a viu
Ninguém não
Apenas um poeta
Bêbado e solitário
Que caminhava pelas ruas desertas
Namorando estrelas
A estrela de Belém avistou.


O poeta
Deteve-se a olhá-la
A estrela de Belém
Veio caindo... Caindo
Caindo,


Imóvel o poeta
Que não era místico
E nem esotérico
Observava atentamente
Aquele fenômeno.
Mas a meio metro do chão
A estrela de Belém
Parou de cair
E pairou no ar.


Novamente um galo cantou distante
Anunciando o nascimento do Cristo
E da escuridão da noite
Com as luzes internas
E os faróis apagados
Para não dá bandeira
Uma negra limusine surgiu.


Assim como a estrela de Belém
A limusine também parou
Sob o viaduto:
São Francisco?Da Floresta?
Das Almas?Da lagoinha?
Que diferença faz?
Não importa.


Importa que as portas
Da limusine foram abertas
E do veículo
Três magos saltaram
Não traziam nem ouro
Nem incenso nem mirra
Mas saltaram usando capuzes
E de armas engatilhadas.
E ali mesmo sob a luz da estrela de Belém
E do olhar atônito do poeta
Que nada pode fazer para salva-lo
Fuzilaram o menino Jesus
Que fumava crack na calçada.


Copyright ₢ Tom Vital/20/12/1995

Nenhum comentário:

Postar um comentário