Bar Corsário De
PãSatã
Era
noite caia uma chuva miúda
E
fazia calor
Véspera
de Natal, a cidade estava iluminada
E
animada para a chegada do Menino.
Eu
Caminhava solitário por uma movimentada
Rua
de Uma Grande Cidade brasileira
Alheio ao burburinho natalino.
Indefinida
cidade. Rio. São Paulo
Ou
a minha amada BH.
De
repente me vi, como que
Num
passe de mágica
No
interior de um bar
Em
estilo neoclássico.
O
bar estava mergulhado numa semiescuridão
Mas
havia ali em seu interior um letreiro em neon
Luzes
azuis verde e vermelhas
Algumas
luzes eram falhas.
Mas dava para ler claramente o nome do bar:
Bar Corsário De PãSatã .
Em
pé debruçadas no balcão
Duas
jovens garotas de uns 20 anos
Uma
loira e uma morena
Ambas
me sorriram tão descaradamente
Que
o Nossa Amizade se agitou
E
se agigantou dentro da cueca.
Depois
vi que o garçom, que estava sem camisa
Deitado
sobre uma das mesas,
Tinha
uma atadura para curativo
De
cor branca na cabeça
E
outra no tórax, cobrindo parte
Da frente e das costas.
Fumava
um charuto cubano
Mas
o cheiro era de maconha
Cheiro
bom de maconha da boa.
Reparei
melhor e então percebi
Que
se tratava do próprio Che Guevara
Em
pessoa.
Fiz
o meu pedido, ele me indicou a
Máquina
de autoatendimento onde
Eu
deveria sacar um voucher
No
valor que pretendia gastar
Fiz
o que ele mandou
Gastei
de cara cem reais
E
pedi uma cerveja uma dose Jack Daniel’s
Sem
gelo e uma porção de fritas
As
fritas jamais chegaram.
Eu
já estava no fim da cerveja
Quando
o uísque finalmente chegou
Trazido
por uma das garotas.
Mas
quando tentei pegar o copo
O
mesmo com o uísque se transformou
No
Jão o cachorro vira-lata da família Silva
Morto
no último dia 2 de novembro.
E
para o qual eu escrevi um poema a pedido
De
minha irmã Élcia.
Jão
pulou da mesa e correu em direção ao banheiro
Perplexo
e com o coração aos pulos dentro peito
Eu
fui atrás do jão
Não
o encontrei mais
Porém
aproveitei para tirar a água do joelho
Quando
voltei ao recinto
O
bar estava cheio e movimentado por gente famosa
Todos
já falecidos
Drummond
tomando uma cachacinha mineira
Em
sua canequinha de folha-de-flandres.
Vinicius
isso mesmo o poetinha
Fumando
e bebendo seu uísque.
Baden
Powell tocando violão
Tom
Jobim tocando piano
E
Elis Regina cantando lapinha.
Madame
Satã estava atrás do balcão
E
servia a rapaziada
Cartola,
Noel, Nelson Gonçalves
Belchior,
e Vicente Celestino
Vestido
como o Ébrio de seu grande sucesso.
Até
Conde Drácula estava presente
E
tomava sua dose de sangue
Puro
e fresco,
Acompanhado
da Ruiva Marina
Moça
fantasma de duas vulvas
Que
segundo a lenda perambula
À
noite pelas ruas de grandes cidades.
Depois
surgiu Robert Johnson que
Tocou
alguns blues inclusive
Terraplane
Blues e Me And The Devil Blues.
Cintura
Fina da velha e boêmia lagoinha
Fazia
a vez de segundo garçom.
Uma
vez que Che Guevara desaparecera,
As
duas jovens que me deixaram de pau duro
Também se escafederam.
Depois surgiu o Saci Pererê de gorro vermelho,
Fumando um cachimbo fedorento e como se fosse,
Um preto velho benzedor, falando rezas desconexas
Equilibrando como sempre em uma única perna
Porém era uma perna mecânica novinha em folha.
Perguntei-lhe o que acontecera com a outra perna:
Ele contou que resolveu brincar o último halloween
Mas um grupo de jovens brancos fascistas de extrema direita
Não gostou de sua presença na festa,
Eles cortaram sua perna e a jogaram fora
Numa Cachoeira de sete quedas...
Socorrido por uma equipe do SAMU
Ele chegou agonizante ao hospital municipal
E uma cinquentona abastada cuja cama ele visita
Uma vez por ano pagou-lhe a protese.
Manoel de Barros não bebia mas também
Estava
presente e encantava sapos e pererecas.
Então
meu celular despertou eram quatro e quarenta
Da
manhã hora de começar a me aprontar para o trabalho
Puta
responsabilidade do caralho.
Cortando
o barato do meu sonho
Quando
a festa prometia.
Pois
o último vulto que vi adentrar o Corsário
Era
ninguém mais, ninguém menos
Que
o Grande Raul Seixas!
Acompanhado pelo belo e jovem casal
Vanusa e Antônio Marcos.
Copyright©Tom
Vital/23/11/2020
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