terça-feira, 24 de novembro de 2020

Bar Corsário De PãSatã


 

Bar Corsário De PãSatã

Era noite caia uma chuva miúda

E fazia calor

Véspera de Natal, a cidade estava iluminada

E animada para a chegada do Menino.

Eu Caminhava solitário por uma movimentada

Rua de Uma Grande Cidade brasileira

Alheio ao burburinho natalino.

Indefinida cidade. Rio. São Paulo

Ou a minha amada BH.

De repente me vi, como que

Num passe de mágica

No interior de um bar

Em estilo neoclássico.

O bar estava mergulhado numa semiescuridão

Mas havia ali em seu interior um letreiro em neon

Luzes azuis verde e vermelhas

Algumas luzes eram falhas.

Mas dava para ler claramente o nome do bar:

Bar Corsário De PãSatã .

Em pé debruçadas no balcão

Duas jovens garotas de uns 20 anos

Uma loira e uma morena

Ambas me sorriram tão descaradamente

Que o Nossa Amizade se agitou

E se agigantou dentro da cueca.

Depois vi que o garçom, que estava sem camisa

Deitado sobre uma das mesas,

Tinha uma atadura para curativo

De cor branca na cabeça

E outra no tórax, cobrindo parte

Da frente e das costas.

Fumava um charuto cubano

Mas o cheiro era de maconha

Cheiro bom de maconha da boa.

Reparei melhor e então percebi

Que se tratava do próprio Che Guevara

Em pessoa.

Fiz o meu pedido, ele me indicou a

Máquina de autoatendimento onde

Eu deveria sacar um voucher

No valor que pretendia gastar

Fiz o que ele mandou

Gastei de cara cem reais

E pedi uma cerveja uma dose Jack Daniel’s

Sem gelo e uma porção de fritas

As fritas jamais chegaram.

Eu já estava no fim da cerveja

Quando o uísque finalmente chegou

Trazido por uma das garotas.

Mas quando tentei pegar o copo

O mesmo com o uísque se transformou

No Jão o cachorro vira-lata da família Silva

Morto no último dia 2 de novembro.

E para o qual eu escrevi um poema a pedido

De minha irmã Élcia.

Jão pulou da mesa e correu em direção ao banheiro

Perplexo e com o coração aos pulos dentro peito

Eu fui atrás do jão

Não o encontrei mais

Porém aproveitei para tirar a água do joelho

Quando voltei ao recinto

O bar estava cheio e movimentado por gente famosa

Todos já falecidos

Drummond tomando uma cachacinha mineira

Em sua canequinha de folha-de-flandres.

Vinicius isso mesmo o poetinha

Fumando e bebendo seu uísque.

Baden Powell tocando violão

Tom Jobim tocando piano

E Elis Regina cantando lapinha.

Madame Satã estava atrás do balcão

E servia a rapaziada

Cartola, Noel, Nelson Gonçalves

Belchior, e Vicente Celestino

Vestido como o Ébrio de seu grande sucesso.

Até Conde Drácula estava presente

E tomava sua dose de sangue

Puro e fresco,

Acompanhado da Ruiva Marina

Moça fantasma de duas vulvas

Que segundo a lenda perambula

À noite pelas ruas de grandes cidades.

Depois surgiu Robert Johnson que

Tocou alguns blues inclusive

Terraplane Blues e Me And The Devil Blues.

Cintura Fina da velha e boêmia lagoinha

Fazia a vez de segundo garçom.

Uma vez que Che Guevara desaparecera,

As duas jovens que me deixaram de pau duro

Também se escafederam.

Depois surgiu o Saci Pererê de gorro vermelho,

Fumando um cachimbo fedorento e como se fosse,

Um preto velho benzedor, falando rezas desconexas

Equilibrando como sempre em uma única perna

Porém era uma perna mecânica novinha em folha.

Perguntei-lhe o que acontecera com a outra perna:

Ele contou que resolveu brincar o último halloween

Mas um grupo de jovens brancos fascistas de extrema  direita

Não gostou de sua presença na festa,

Eles cortaram sua perna e a jogaram fora

Numa Cachoeira de sete quedas...

Socorrido por uma equipe do SAMU 

Ele chegou agonizante ao hospital municipal

E uma cinquentona abastada cuja cama ele visita

Uma vez por ano pagou-lhe a protese.

Manoel de Barros não bebia mas também

Estava presente e encantava sapos e pererecas.

Então meu celular despertou eram quatro e quarenta

Da manhã hora de começar a me aprontar para o trabalho

Puta responsabilidade do caralho.

Cortando o barato do meu sonho

Quando a festa prometia.

Pois o último vulto que vi adentrar o Corsário

Era ninguém mais, ninguém menos

Que o Grande Raul Seixas!

Acompanhado pelo belo e jovem casal

Vanusa e Antônio Marcos.

Copyright©Tom Vital/23/11/2020

 

 

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