terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Vô Vital


O Vô Vital


Meu pai é o Vô Vital
Carinhosamente assim o trata
A garotada que mora em minha rua.
Meu pai tem uma carroça
Que ele mesmo construiu
E uma mula pêlo de rato
Chamada Catarina.


Todas as tardes quando
Ele volta cansado do trabalho
Cansado, porém sorridente:
"Lá vem o Vô Vital"
Alegremente assim grita
E sai correndo ao seu encontro
A criançada que mora em minha rua
Gentilmente o Vô Vital para a carroça
Para que todos subam
Para uma curta viagem pelo quarteirão...


Um ônibus desgovernado, na Antônio Carlos
Já lhe pegou a carroça
Mandando-o para o hospital
E tirando-o de circulação
Durante vários dias.


Mas como guiar a sua carroça
É a única maneira honesta
Que papai sem estudos
Vindo do interior
De ganhar o próprio pão
Ele nunca desiste.
Chicote na mão
Torso erguido
Chapéu de palha na cabeça
Preso ao queixo por um pedaço de barbante
A roupa sempre rôta
Com a sua carroça e a sua mula Catarina
Meu pai trabalha fazendo carreto
E enfrenta diariamente com a coragem de um leão
O louco e selvático trânsito de Belo Horizonte.


Meu pai é o meu herói
E também o herói da garotada
Que mora em minha rua
Não um herói comum
Estereotipado como um Batman
Ou um Super-Homem
Simplesmente um anônimo carroceiro.


Meu pai é o "Vô Vital".
Carinhosamente assim o trata
A criançada que mora em minha rua.
©Tom Vital/30/06/1990



Nenhum comentário:

Postar um comentário