domingo, 31 de julho de 2011

Desacato A Autoridade

Desacato A Autoridade


 

Alta madrugada

Quando voltava para casa

O poeta foi parado pela policia

Os canas já foram descendo do camburão

E jogando o poeta contra a parede

Chutando lhe a canela

E apalpando-lhe os testículos com voracidade

Quase que a esmagá-los

Nem sequer lhe pediram a identificação

Quando o poeta argumentou que era trabalhador

Um dos policiais verificando lhe a mão:

"Trabalhador? Com essa mão lisa. Mão de moça?

É que eu tenho calo é no cérebro - respondeu o poeta.

:

E o poeta foi preso por desacato a autoridade.

Copyright © Tom Vital/29/04/2011

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Furtivamente


Furtivamente

 

Cocô de cavalo é esterco
Titica de galinha é adubo
Dos bons.
Cocô de gente é merda
Sem romantismo
Até a bosta, da amada
É merda mesmo.

 


 

Escrevo sempre
Na primeira "pessoas"
Só assim sou verdadeiro.

 

Sou binário
Sou múltiplo
Sou mega
Sou giga
Otário
Só quando
Era apaixonado por uma rameira
E viciado em caça-níqueis
Mas isso é passado
Hoje eu não jogo
Nem purrinha
Valendo cerveja.

 

Em menino
Não se falavam em
Site internet
E-commerce e-book
Ponto com. br
Telefone celular
Nanotecnologia
Essas monstruosidades
Não existiam.
Mas eu conhecia fogão de lenha
Ferro (de passar) a brasa
E era muito... Muito mais feliz.

 

Nunca vou crescer totalmente
Recuso-me obstinadamente
A ser gente grande,
Inteiramente adulta e chata
Mas sei que também vou morrer.
Um dia...
Quando? Uma hora, qualquer hora,
Qualquer hora é hora. Ora bolas!
Enquanto isso vou compondo
Dia-a-dia. O meu próprio enredo
Ficção?Realidade?Quem o sabe?

 


 

Sem animismo, sem infância
Não pode haver poesia
Palavras concretas
Também fazem parte.
De vez enquanto piro
E liberto meus demônios
Todos juntos
Uma legião de capetinhas
Do bem.
Mas o inverno
E o outono
Me fazem são de novo.

 

Há muito tempo não mijo
No dedão do pé
Para cicatrizar ferimento.

 

Há muito tempo não como
Manga de vez com sal
Há muito tempo não chupo
Cana fresca
Há muito tempo não entro
Em boteco pra matar o bicho
Há muito tempo não devoro
Uma fatia de broa de fubá
Acompanhada de uma boa xícara
De café passado na hora
Café de grãos moídos na hora
E comprado no armazém
De seu Eleutério Villann Pinon
O velho Espanhol
Da minha infância.

 


 

Há muito tempo
Não bato o osso no prato
Para chamar o totó.
Há muito tempo
Não esmago lêndeas e piolho
Com o dedo polegar.
Há muito tempo
Não cutuco bicho-de-pé
Com ponta de agulha.
Há muito tempo
Não espio furtivamente
(No tempo que éramos crianças)
Pelo buraco da fechadura
Minhas irmãzinhas se banharem
Na velha bacia de alumínio.
Há muito tempo não vejo furtivamente
(No tempo em que ainda mordia chupeta)
Minha avó pela greta, da porta, segurar a barra
Da saia para mijar de pé na privada
Há muito tempo
Você não vem e vai furtivamente
Há muito tempo não frequento a sua alcova furtivamente,
Alta madrugada, enquanto o seu marido ébrio roncava
Alto no quarto ao lado.
Há muito tempo
Não ajo furtivamente.

 

Copyright©Tom Vital/03/10/2000

 


 


                    (imagem da internete )


 

sábado, 2 de julho de 2011

Livro


Livro
Ah!Como é difícil
Resistir à salutar tentação
De se entrar em uma livraria
Para comprar um bom livro
É algo assim...
Como um vício
Mas um vício bom.

 

Em tempos idos
Tive uma namorada
De nome Tecla.
Era morena
Era bela
Era fada.
Hoje deve
Está bruxinha...

 

Mas sempre que eu tentava
Incutir-lhe
O gosto pela leitura.
Ela vinha
Com o mesmo e velho bordão
Usado para qualificar
Ou será desqualificar?
Todo e qualquer assunto
Que não fosse
De seu inteiro agrado:
"Pra quem gosta
"É um prato cheio..."

 

Como já disse
Ela também
Era um prato cheio.
Hum!...
E que prato.
Mas um dia
Nossos caminhos
Se descruzaram.

 

E durante algum tempo
Me vi privado
Do bem-bom da vida...
Que é o amor
Em toda sua plenitude.

 

Bendito seja
Esses tempos produtivos
De grata inspiração poética.
Maldito seja
Esses tempos difíceis
De recursos parcos.
Em que não posso
Dispor de meu soldo
Tão livremente.

 

Livros!
Benditos sejam
Todos os livros
Que sempre me dão
Prazer e alegria
Na hora certa
Na medida exata...
Copyright©Tom Vital/05/08/2002