sexta-feira, 24 de junho de 2011

A Vaca

A Vaca

Da minha janela, no Caieiras

De onde ainda se avista o mais lindo

Pôr-do-sol em Vespasiano,

Vi como que, por encanto,

Uma vaca pastando

No verde céu do caieiras.


 

A vaca não era amarela,

A vaca não era malhada,

A vaca não era para corte,

A vaca não dava cria,

A vaca não dava leite,

Leite branquinho e fresquinho

Para alimentar bocas famintas.


 

"Para que serve uma vaca

Que não dá leite, nem cria?"

Jorrava dinheiro o bicho!

Verdinhas, verdinhas, verdinhas,

God save America!

Mas só para quem

Negociava precatórios.


 

Sonho ou delírio,

O certo é que vi,

Da minha janela, no Caieiras,

De onde ainda se avista o mais lindo

Pôr-do-sol em Vespasiano,

Uma vaca neoliberal a pastar

No verde céu do Caieiras.

Era azul a danada.

Copyright Tom Vital/15/06/1997

A Dona Do Gato

A Dona Do Gato

A dona do gato

Me causa espécie

Me deixa de quatro

É uma tentação felina.

Dias desse vi na janela

Pendurada pra secar

Pingando água, eu acho?

Uma peça intima...

Diminuta peça intima

Da dona do gato.

Ai que tentação estranha

Eu senti.

Que desejo enlouquecedor.

Que febre louca.

Nunca mais dormi em paz.

Sempre que ela passa

Faço questão de cumprimentá-la

Na esperança de uma frase

Ou um sorriso convidativo

Uma brecha uma fresta

Por onde penetrar.

A dona do gato

Ai que tentação felina.

Quero que ela me tatue

E arranhe todo o meu corpo

Com suas unhas enormes

E verdes de feiticeira.

E que sua boca

De lábios rubros

E carnudos de gata no cio.

Me morda.

E me deixe bem marcado.

Como a dizer: Esse gato está arranhado

E é meu...Só meu...

Marcado bem marcado.

Mais do que está marcado

Meu coração...

Desde que a vi

Pela vez primeira

Só de pijaminha

Parada na porta

Carregando rente ao peito

O belo gato angorá.

A dona do gato

Me deixa de quatro

A dona do gato

Me causa espécie.

Ai meu deus

Que pecado

A dona do gato?

É casada... A danada...


 

Copyrigth© Tom Vital/2009

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O Filho Do Carroceiro

O Filho Do Carroceiro.

Eu sou o filho do carroceiro.

Sou aquele que se diz agnóstico

Embora tenha sido criado

Sob os dogmas da Igreja Católica.


 

Eu sou o filho do carroceiro.

Sou aquele que não pretende ser

Nenhum artista profundo

Mas, que, com o martelo e a foice

Pretendia fazer a reforma do mundo.


 

Eu sou o filho do carroceiro.

Sou aquele que escreve torto

Em linhas retas.


 

Eu sou o filho do carroceiro.

Sou aquele que risca torto

Mesmo com o auxílio de uma régua.

Copyright Tom Vital/17/08/1987


 

sábado, 11 de junho de 2011

O Jogador

O Jogador.

Eu sei como Dostoievski sabia

E os poetas também sabem

Que dois e dois são cinco

E que a adrenalina aumenta

No instante do segundo fatal

Que precede a jogada.


 

Mas a sorte caprichosa dama

Quase sempre nunca vem

E quando vem

Vem sovina.


 

E dia-a-dia

Definho a saúde

E o bolso.


 

Antes para os que me amavam

Eu era um mito

Agora minto

Apenas minto

Já não sinto.

Copyright Tom Vital/26/11/2000

Conversa Fiada

Conversa Fiada


 


 

Sou louco

Sou barroco

Prático

Nunca teórico

Arquiteto dissimétrico

De um mundo caótico.


 


 

Já fui zoneiro

Viciado em puta

Mas amar é para quem sabe

Não Páquequer

Amar... Amor...

Dessa arte

Quero ser aprendiz sempre.


 

Ninguém me abraça

Ninguém me beija

Ninguém me empresta a Veja

Ninguém me chupa o pau

Ninguém me empresta a Carta Capital.


 


 

Leio O Pasquim

O Diário Da Tarde

A Razão, da Luana e do Jonusan

E a Lista Telefônica

Do Alto Médio Rio

Das velhas.

Copyright© Tom Vital/22/02/2002

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Morte Ao Vivo

Morte Ao Vivo


 

Morte

Baba que escorre do canto da boca

Morte

Baba que escorre do canto da boca

Para o queixo

Morte

Baba que escorre do canto da boca

Para o queixo

E do queixo para o peito

Morte

Baba que escorre do canto da boca

Para o queixo

Do queixo para o peito

E do peito para o leito

Morte

Baba que escorre do canto da boca

Para o queixo

Do queixo para o peito

Do peito para o leito

E do leito para o chão.


 

Morte baba que escorre do canto da boca

Morte parada cardíaca

Morte revirar de olhos

Morte inércia

Morte movimento.


 

Morte Lavoisier:

"Na natureza nada se ganha

Nada se perde

"Tudo se transforma."


 

Morte revolta e dor dos que ficam

Morte baba que escorre do canto da boca

Morte arte babaca de um deus bobo.


 

Copyright©Tom Vital25/05/2000

Morte

Morte


 

A morte me espreita do teto

São dois olhinhos sinistros

Dentro de um abajur azul.

E o Deus da vida?

E o Deus da morte?


 


 

Esse é um cara muito estranho

Ele não vai lá em casa

Almoçar e nem jantar

Mas de vez em quando

Vem me cobrar

Dívidas que eu não lembro

Ter contraído.


 

Copyright©Tom Vital/19/05/2000

A Procura

A Procura

Olha que eu procuro

E quem procura quase sempre acha...

Olha que eu procuro

A poesia verdadeira

Pura e cristalina

Com o faro de um cão fila.

Olha que eu procuro

Uma mulher que seja boa para mim

Minha cara metade.

E que me de muito prazer.

Olha que eu procuro

Uma mulher que seja minha musa

Uma mulher que seja só minha

E não mulher do mundo.

Olha que eu procuro

Uma mulher cheia de vida

Cheia de luz.

Olha que eu procuro

Uma mulher que não seja

Apenas minha cruz.

Olha que eu procuro...

E quem procura

Quase sempre acha

Ao menos uma acha de lenha

Para reavivar o fogo

Morno da lareira...

Copyright©Tom Vital/01/04/2002


 

segunda-feira, 6 de junho de 2011

GÓTICO II


GÓTICO

 

Sofro de fobia social e policial
Desde criança
Tenho pesadelos de todas as espécies
Todas as noites.

 

Esqueci todas as fórmulas químicas
Os signos se embaralharam
Não distingo água e vinho
Vinho e sangue.

 

Insana insônia
Constante demência
Todas as noites a mesma coisa
Me visitam os mesmos demônios.

 

Numa necessidade quase patológica
Releio: Augusto dos Anjos, diariamente
Torquato Neto, Maiakóvski
E Whitman, esporadicamente.

 

Antes eu queria ser jogador de futebol
Mas nunca tive muita intimidade com a bola
Nunca fui capaz de tratá-la por você
Somente por Vossa Excelência.

 

Depois quis ser piloto de avião
Barrado na Aeronáutica
Por causa de um mal-entendido
Restaram-me por força de vocação
A química e a poesia.

 

Copyright©Tom VITAL/20/05/1985

(foto da internete)

domingo, 5 de junho de 2011

Dia Dos Namorados

Dia Dos Namorados.

No dia dos namorados

Quero mil beijos seus.

No dia dos namorados

Quero ficar grudado em você.

No dia dos namorados

Quero só eu e você.

No dia dos namorados

Quero um sorriso seu

E uma rosa vermelha

Como os lábios seus.

No dia dos namorados

Quero encher a banheira

Com champanha

E pétalas de rosa

Pra celebrar o nosso amor.

No dia dos namorados

Quero fazer um poema

De amor só pra você

No dia dos namorados

Não quero saber de internet

Só quero saber de você

No dia dos namorados

Só quero ouvir sua voz

Doce voz de sereia

Musica pros meus ouvidos.

No dia dos namorados

Serei seu plebeu

E você minha soberana.

No dia dos namorados

Quero ser seu reino encantado

E que você seja

A minha ilha da fantasia.

No dia dos namorados

Só eu e você

No dia dos namorados

Eternamente eu e você

Sendo consumidos

Por uma febre muito louca.

No dia dos namorados...

Copyright©Tom Vital/2011

sábado, 4 de junho de 2011

Memento


Memento


Vida morte tempo

Qual o argumento

De quem criou

Essa tríade de acontecimentos?

Sim tudo é efêmero!

E por tudo ser efêmero

É que se deve celebrar

A vida a cada instante.

Vem morena

Unidunitê, salamê míngüe

Tenho um sorvete colorê

Pra você.

Nosso tempo não existe

O que existe é o tempo

Do tempo...

Tempo corrente

Que mata gente.

Quem tem medo sai da frente.

Tempo serial killer

Tempo que mata tudo

Tempo que mata os sonhos

Tempo verdugo

Tempo corrente

Que mata gente

Quem tem medo saí da frente.

Mas correr pra onde?

Vem morena, vem loirinha,

Vem ruivinha.

Unidunitê, salame míngüe

Tenho um sorvete colorê

Pra você.

Copyright© tom vital 2011




 

sexta-feira, 3 de junho de 2011

As Palavras

As Palavras


 

Meu carma

Meu nirvana

Meu absinto

Minha cocaína

Minha maconha

São as palavras

Das palavras sou escravo

Quase michê

Operário das palavras.


 

Não me sinto bem

Sem bulir com as palavras

Mas não tenho pretensões literárias


 

Baudelaire meu chapa!

Já fumei hoje meu ópio

Rimbaud meu companheiro

Já tomei hoje

Minha ração de soma.


 

Exploro decoro e devoro

As palavras

Das palavras sou escravo.


 

Só espero nunca me render

(Se algum dia ela chegar para mim)

Aos encantos da Deusa-Cadela

Que é a vitória literária

No dizer de D.H.Lawrence

Em O Amante de Lady Chatterley.


 

Mas escrever é como jogar,

Um ato extremamente solitário

Daí-nos, hoje Senhor

A inspiração de cada dia.


 

Copyright©Tom Vital/04/05/1988