sexta-feira, 8 de julho de 2011

Furtivamente


Furtivamente

 

Cocô de cavalo é esterco
Titica de galinha é adubo
Dos bons.
Cocô de gente é merda
Sem romantismo
Até a bosta, da amada
É merda mesmo.

 


 

Escrevo sempre
Na primeira "pessoas"
Só assim sou verdadeiro.

 

Sou binário
Sou múltiplo
Sou mega
Sou giga
Otário
Só quando
Era apaixonado por uma rameira
E viciado em caça-níqueis
Mas isso é passado
Hoje eu não jogo
Nem purrinha
Valendo cerveja.

 

Em menino
Não se falavam em
Site internet
E-commerce e-book
Ponto com. br
Telefone celular
Nanotecnologia
Essas monstruosidades
Não existiam.
Mas eu conhecia fogão de lenha
Ferro (de passar) a brasa
E era muito... Muito mais feliz.

 

Nunca vou crescer totalmente
Recuso-me obstinadamente
A ser gente grande,
Inteiramente adulta e chata
Mas sei que também vou morrer.
Um dia...
Quando? Uma hora, qualquer hora,
Qualquer hora é hora. Ora bolas!
Enquanto isso vou compondo
Dia-a-dia. O meu próprio enredo
Ficção?Realidade?Quem o sabe?

 


 

Sem animismo, sem infância
Não pode haver poesia
Palavras concretas
Também fazem parte.
De vez enquanto piro
E liberto meus demônios
Todos juntos
Uma legião de capetinhas
Do bem.
Mas o inverno
E o outono
Me fazem são de novo.

 

Há muito tempo não mijo
No dedão do pé
Para cicatrizar ferimento.

 

Há muito tempo não como
Manga de vez com sal
Há muito tempo não chupo
Cana fresca
Há muito tempo não entro
Em boteco pra matar o bicho
Há muito tempo não devoro
Uma fatia de broa de fubá
Acompanhada de uma boa xícara
De café passado na hora
Café de grãos moídos na hora
E comprado no armazém
De seu Eleutério Villann Pinon
O velho Espanhol
Da minha infância.

 


 

Há muito tempo
Não bato o osso no prato
Para chamar o totó.
Há muito tempo
Não esmago lêndeas e piolho
Com o dedo polegar.
Há muito tempo
Não cutuco bicho-de-pé
Com ponta de agulha.
Há muito tempo
Não espio furtivamente
(No tempo que éramos crianças)
Pelo buraco da fechadura
Minhas irmãzinhas se banharem
Na velha bacia de alumínio.
Há muito tempo não vejo furtivamente
(No tempo em que ainda mordia chupeta)
Minha avó pela greta, da porta, segurar a barra
Da saia para mijar de pé na privada
Há muito tempo
Você não vem e vai furtivamente
Há muito tempo não frequento a sua alcova furtivamente,
Alta madrugada, enquanto o seu marido ébrio roncava
Alto no quarto ao lado.
Há muito tempo
Não ajo furtivamente.

 

Copyright©Tom Vital/03/10/2000

 


 


                    (imagem da internete )


 

2 comentários:

  1. Sinceramente quem consegue escrever sobre cocô e fazer uma poesia? Só você Tom. Parabéns.
    Eu me emocionei com esse poema, porque também me recuso à ser grande, daquele tipo mesquinho que deixa os sonhos para trás, também sinto muita falta de tudo de bom da minha infância... Nós seremos sempre crianças.

    Beijo.
    P.S. talvez esse comentário duplique hihihi meu cel está meio doido.

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  2. ...e não é que me deu uma vontade danada de tomar café com broa!!!!
    Também sou uma meninazinha, não duvide...

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